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Simplesmente poeta

  • Foto do escritor: Jornal Poiésis
    Jornal Poiésis
  • 22 de mar. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 3 de mai. de 2021


Flávia Joss*


Um dia desses, enquanto falava das leituras que me acompanham, citei uma poeta. Isso mesmo, poeta, mulher que escreve poesia. Em seguida veio a pergunta do meu interlocutor: “não seria poetisa”? Naquele instante lembrei-me da Alice Ruiz, poeta ainda viva e respondi parafraseando sua fala: “poeta é palavra feminina, se os homens querem se diferenciar, eles que se chamem poetos.

Antes de prosseguir com a história, afirmo que as duas formas, poeta e poetisa, podem ser usadas, pois constam nos dicionários e são admitidas na linguagem escrita e oral.

Diante do olhar interrogativo precisei explicar que o termo poetisa passou a ser questionado já que foi atribuído a ele um sentido depreciativo. Alega-se que a carga semântica do termo denota inferioridade da literatura produzida por mulheres, elas que estiveram à margem de um padrão cuja prioridade era o ponto de vista masculino nas produções literárias. Logo, algumas escritoras, dentre elas Cecília Meireles, com seu célebre poema Motivo, apropriaram-se da expressão poeta, compartilhando com os homens a designação do ofício poético.

Motivo

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: Sou poeta. Irmão das coisas fugidias, Não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias


no vento. Se desmorono ou edifico, Se permaneço ou me desfaço, -Não sei, não sei. Não sei se fico Ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada. E um dia eu sei que estarei mudo: -Mais nada. (Cecília Meireles) *Flávia Joss é Professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa.

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