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Alguns medos entre tantas coragens

  • jornalpoiesis
  • 7 de ago. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 14 de ago. de 2022




Flávia Joss

“Ainda tenho um estoque de medos.

Mas vou bebendo a coragem em pequenas doses”

Mari Ventura


Em uma das minhas sessões de terapia, recebi um exercício: pensar sobre meus medos. Achei que seria uma tarefa simples, afinal, não sou tão medrosa assim, contudo fiquei refletindo... Não dava apenas para analisar o presente, era preciso voltar ao passado, revisitar minhas memórias, atravessar a ponte que me liga às tantas Flávias que abrigo em mim.


Enquanto eu pensava sobre meus medos, lembrei-me de algumas situações antigas e vi que em outros tempos, o medo me impediu de fazer muitas coisas. Fiz um projeto de mestrado, paguei a inscrição e não enviei por medo de não ser aprovada. Quando menina, preferia não pedir determinada coisa a minha mãe por medo de receber um “não”. Tive uma professora que falava tão alto que eu ficava com medo de tirar minhas dúvidas. Tinha medo de expor o que eu pensava e ser rejeitada ou criticada. Tinha medo de ir para o inferno. Fui listando em minha mente alguns episódios que eu havia esquecido... A Flávia de outrora era muito medrosa, quase uma “Chapeuzinho Amarelo”.


Hoje sou destemida em alguns assuntos... Não tenho medo de me arriscar num gênero textual que não tenho tanto domínio. Gosto dos desafios, então estou sempre “me metendo” em novidades, gosto de experimentar, de testar meus limites porque acredito que tais experiências me fazem crescer. De vez em quando aparece um medinho em forma de voz de capetinha dizendo “será que você vai conseguir?”, mas eu coloco uma música alta no fone e ignoro o medo, ou respiro fundo e vou com medo mesmo. Não tenho medo da morte, de envelhecer, de ficar doente, de mudança, de surpresas. Não tenho medo de viver! Os medos que me atormentam são “concretos”, não sei se a palavra é adequada, mas vou usá-la assim mesmo. Tenho medo de sapo, rã e perereca, de vários bichos, de mato, de barriga d’água, de dirigir, de ficar presa no elevador, de entrar em lugares considerados de risco e de gente infeliz.


Conforme fui amadurecendo, fui conhecendo e abraçando minhas coragens, um caminho lento que ainda estou trilhando. Sei que outras Flávias me esperam no futuro, possivelmente ainda mais ousadas. O medo não me aprisiona.


(Julho, 2022)


Flávia Joss (@flaviasjoss2_) é escritora, professora de Língua Portuguesa e Literatura, especialista em Gêneros textuais e Interação. Possui cursos de aperfeiçoamento nas áreas de Arte& Espiritualidade, Escrita Criativa


Foto: Anderson Rian

3 Comments


Rosangela Ataide
Rosangela Ataide
Aug 07, 2022

Levei cerca de 10 anos para me curar do transtorno de Pânico. Fiz análise, yoga, me joguei na escrita. Hoje só tenho medo de passar por lugares perigosos (aquele medo que nos preserva) e conservo uma certa timidez que chamo de medo. Fora isso não sei listar. Me sinto livre do medo da morte, ela já me açoitou tanto que ja é de casa. Quero é vida!

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Ive Lima
Ive Lima
Aug 07, 2022

Nossa, Flávia! Como a gente se parece! Eu me vi no seu texto em muitos momentos! Parabéns pela es rita sempre impecável!

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Xunior Matraga
Xunior Matraga
Aug 07, 2022

Seus medos são legítimos, e não há pecado algum em senti-lia. Mesmo por que ”coragem” não é antônimo de medo, coragem é agir mesmo estando com medo. Eles andam juntos. O que não podemos deixar é que o medo nos paralise. Linda reflexão, Deusa Joss!

Xu

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