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Selváticas

  • jornalpoiesis
  • 21 de ago. de 2022
  • 1 min de leitura


Rosa Ataíde


mulheres

são por essência selvagens

e pintam as unhas

pois estas lhes servem de garras.


as garras afiadas das que nutrem

ao seio,

pelo cordão umbilical

com o sangue nutritivo que semeiam pela terra mês a mês...

nossos filhos inatos.


ouçam os tiros...

são milhares os disparos!

eles estão a estilhaçar os corações delas.


silêncio quando morre uma delas,

silêncio nas matas, nas cidades.

até às anciãs se calam

e choram as mulheres nutridoras de Gaia.


chorem por nós...,

os infiéis

os estupradores,

os marginais fardados,

os algozes aliançados .


pois morremos após

nos silenciarem

em suas fogueiras

e com suas facas

perfurarem nossas carnes.


não aos punhos fechados!

não aos queixos trincados!


selvagens,

bicho, mulher,

selváticas!


do colo de nossos úteros

preparamos cama à humanidade.

são nossos os corpos

que de nós foram tomados pela estigma do sexo frágil.


por instinto...

somos medicinais,

cura e nascimento,

eis então que somos fortes!


selváticas!

nos refazemos às adversidades

como a mata que rompe o concreto,

vem dessa essência de bicho

a gana que nos tira o eixo

quando lascamos uma unha.


...mas esperem, elas crescem!

ou as substituímos por postiças adornadas.


Rosa Ataíde é poeta, ilustradora, fotógrafa.

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